Casa cheia e muita alegria
para receber Jerónimo de Sousa e Edgar Silva

Porto com força <br>para novas batalhas

Domingos Mealha
(texto)
Jorge Caria
(fotos)

No comício de sábado à tarde, centenas de pessoas fizeram transbordar o «auditório magno» do Instituto Superior de Engenharia do Porto. A vivacidade com que estiveram nesta primeira grande iniciativa do PCP no distrito, após as eleições legislativas, foi também um compromisso colectivo de empenho nos próximos combates, com destaque para a eleição do Presidente da República.

É agora necessário consolidar os avanços no distrito

Bandeiras do Partido, enfunadas por um vento forte que acabou por não trazer a chuva prometida pela meteorologia, marcavam a entrada do ISEP e acenavam a quem ia chegando, desde antes das 15 horas, para momentos de reencontro de amigos e camaradas. O auditório, com 440 lugares, já estava repleto, quando José Morais subiu à boca de cena, com a sua viola, para interpretar com aquele grande «coro» algumas canções populares e de resistência, como a Pedra Filosofal, a Trova do Vento que Passa ou Maria Faia.
Jerónimo de Sousa e Edgar Silva chegaram no final de uma das músicas e foram recebidos com entusiásticos aplausos e gritos «PCP! PCP!» e «Assim se vê a força do PC!», elevando ainda mais um pouco a temperatura ambiente.
Terminada a actuação, da plateia para o palco subiram os membros da Direcção da Organização Regional do Porto do PCP e também Jaime Toga e Albano Nunes, dos organismos executivos do Partido, o candidato comunista às eleições presidenciais e o Secretário-geral do PCP. As suas cadeiras não ficaram vazias, mas mesmo assim muitas pessoas continuaram a ter que usar os degraus entre filas para se sentarem. Outras ficaram-se pelo hall, onde também foi colocada instalação sonora a ampliar o que decorria no auditório.

Os resultados das eleições de 4 de Outubro abriram a primeira intervenção. Jaime Toga, responsável pela OR do Porto na Comissão Política do Comité Central do Partido, destacou o contributo do distrito para as duas principais consequências: a derrota da coligação PSD/CDS, que aqui perdeu quatro dos 25 deputados que tem agora a menos na AR; e o reforço da CDU, que aumentou a votação em todos os 18 concelhos e elegeu o terceiro deputado, o que não sucedia há cerca de 30 anos.

Cá estamos!

«Passadas as eleições, cá estamos, para honrar a palavra dada», disse ainda Jaime Toga, relatando que os deputados agora eleitos já tiveram encontros com representantes dos trabalhadores da Unicer, «para ver formas de intervenção face ao despedimento colectivo» anunciado, e já estiveram na Administração Regional de Saúde, exigindo a colocação de médicos de família recentemente formados e afirmando a determinação de contrariar «qualquer ataque ao Serviço Nacional de Saúde» e, no imediato, impedir que o Hospital de Santo Tirso seja entregue a privados no final do ano. Adiantou que na AR será apresentada uma proposta para reverter a privatização da Metro do Porto e da STCP, «confrontando os outros partidos com o que disseram na campanha eleitoral».
Alertando que «os problemas persistem e agravam-se», apesar de não estarem há vários meses na agenda mediática, defendeu que «é preciso resistir a esta ofensiva, recuperar direitos e abrir caminho à melhoria das condições de vida dos trabalhadores». Neste combate, «o lugar dos comunistas é na linha da frente, assumindo o papel de vanguarda que lhes compete, reforçando o Partido e a luta».
Ao abordar o reforço da organização do Partido como «maior e melhor garantia de criar condições para respondermos às tarefas que temos pela frente», Jaime Toga assinalou que «são muitas as potencialidades», como sucede no recrutamento, pois mais de 150 camaradas aderiram ao Partido este ano no distrito, sendo agora necessário «transformar esta adesão em participação militante».
«Consolidar os avanços no trabalho financeiro» foi outra necessidade apontada pelo dirigente comunista, «mesmo com as dificuldades que o povo enfrenta e com as exigências que a campanha eleitoral colocou aos nossos quadros». «Conseguimos evoluir no trabalho de quotização e estamos em condições de garantir que, até final do ano, cumpriremos a nossa meta na campanha de fundos para a aquisição da Quinta do Cabo», informou Jaime Toga.

Os aplausos que várias vezes interromperam a intervenção do responsável da OR Porto elevaram-se e prolongaram-se para receber Edgar Silva, na primeira intervenção pública após a apresentação da candidatura às eleições presidenciais (nesta edição tratada em caderno especial). O candidato e dirigente comunista começou por saudar todos os presentes pelo «resultado histórico» obtido pela CDU no dia 4 e enalteceu a cidade do Porto como «lugar referencial de tantas batalhas pela liberdade e pela democracia».
O diálogo vivo com o público prosseguiu, quando Edgar Silva caracterizou a actual situação no Mundo e em Portugal. «Não foi para isto que se fez Abril», comentou o candidato, recebendo em troca «Abril vencerá», gritado por centenas de vozes. Foi com indisfarçada emoção que reagiu, no final da intervenção de Jerónimo de Sousa, à espontânea palavra de ordem «Edgar, avança, com toda a confiança».

Jerónimo de Sousa, durante a intervenção que encerrou o comício – e que publicamos nas páginas seguintes – foi igualmente interrompido várias vezes pelo público, tanto com aplausos, como com vaias (nas referências ao actual Governo e ao PSD e CDS e também ao Presidente da República) e com palavras de ordem, nomeadamente garantindo que «a luta continua».
Suscitaram particular entusiasmo algumas afirmações do Secretário-geral do PCP, à margem da intervenção escrita, sublinhando que o resultado de 4 de Outubro «deve-se à CDU e não a qualquer elemento estranho à nossa campanha», garantindo que «este Partido não cederá à chantagem e à ameaça», ou acentuando as características pessoais de Edgar Silva e o percurso de vida que o trouxe ao PCP e que muito valorizam a candidatura.

 



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